Em Minas Gerais, o partido vem sendo marcado, durante anos, por uma disputa interna fratricida que mais nos divide do que nos aproxima de uma síntese partidária. Disputa essa que vem estabelecendo a desconfiança política como base de ação e normalidade e colocando a burocracia do partido a serviço de grupos políticos específicos, criando uma distância imensa entre o PSOL dos municípios com o Diretório Estadual, ocasionando um grande aumento de diretórios irregulares, sem instruções de funcionamento, sem sintonia com o resto do partido, sem um funcionamento unitário como partido ao menos nas questões mais básicas da ordem do dia. Os diretórios municipais funcionam apenas pela boa vontade, esperança e raça daqueles que os constroem.
Acreditamos que é acertado falar que o PSOL possui características que sustentam a construção de um projeto coletivo e é capaz de conviver com as divergências, desde que as mesmas façam parte de um conjunto democrático e criativo de políticas, ao contrário do que vem acontecendo em MG. As divergências não podem justificar o não funcionamento pleno do PSOL e a falta de orientações e encaminhamentos que permitam a integral operatividade do Partido em seus municípios, sendo assim, o PSOL Minas tem se afundado em uma construção autofágica de visão extremamente internista e muito pouco útil às necessidades urgentes da população de mineira e dos movimentos sociais do estado, resultando em um quase inexistente trabalho de base e uma relevância política ainda a desejar no espectro da grande política do estado.
É o tempo do PSOL. É preciso tomar imediatamente iniciativas para superar os impasses de organização se não por uma tomada de consciência coletiva, pelo menos pela urgência que a conjuntura nos impõe. A unidade e a política precisam ser colocadas à frente para criar uma outra cultura partidária que inverta as disputas acirradas por motivos secundários ou por cargos. É preciso criar núcleos de base fortes e com inserção nos movimentos sociais, bairros, comunidades, setores culturais, religiosos e progressistas. Setoriais capazes de modificar a intervenção pública do partido e realizar uma exemplar comunicação com a sociedade, usando e abusando das novas mídias e de formas mais eficazes de participação direta com a ampliação das propostas que balizam o nosso programa partidário.
O pouco tempo de vida do PSOL nos mostrou que há a possibilidade de termos um projeto comum em torno de novas idéias e que as nossas divergências internas devem servir para arejar o partido, e não o oposto, se houver disposição de travarmos um debate aberto e de alto nível. As tendências, a partir da confiança entre elas, podem evoluir caso apresentem suas idéias e visões sobre o que acumularam de experiência nacional e internacional de modo fraterno e diplomático. É tempo de superação das desconfianças e de retorno à capacidade e as tradições da esquerda em formar organismos unitários de ação, a partir de decisões democráticas nas instâncias coletivas. Essa superação é imprescindível para que o PSOL Minas, assim como o PSOL Nacional, se torne um ator relevante na esquerda mineira.
Da mesma forma, para que sejamos uma ferramenta política útil à reorganização da esquerda brasileira, para que nos consolidemos como instrumento independente, anticapitalista, ecossocialista, popular, democrático e libertário, colado nas lutas sociais de todas as camadas dos explorados e oprimidos do povo brasileiro, não basta que recitemos nossas boas intenções. É preciso, antes de mais nada, que sejamos financeiramente independentes, que não aceitemos financiamento de setores empresariais, nem direta nem indiretamente por meio de organizações sociais que animamos. Nossa independência política é imprescindível para que tenhamos liberdade e coerência na busca por ocupar um espaço relevante na conjuntura do estado e também, nos dando credibilidade frente aos movimentos sociais e ao conjunto da população mineira. Nesse sentido, é urgente que o PSOL Minas tenha uma campanha de autofinanciamento séria, profissional, insistente, criativa e coletiva junto aos seus militantes filiados eximindo, é claro, os militantes desempregados da contribuição.
Também é bem vindo que o PSOL Minas estabeleça redes de acolhimento e auxílio aos militantes que por ventura tenham perdido sua renda durante a pandemia ou que venham a perder futuramente através de redes de contato possíveis que possam realocar nossos companheiros novamente no mercado de trabalho. Se o partido tiver uma visão de cuidado com seus filiados, da mesma forma, seus filiados passarão a ter uma visão de cuidado e contribuição com o partido. Em tempos de tanta dureza e perda, é urgente que coloquemos em prática o real significado da solidariedade.
Por fim, se o PSOL quer ser o partido das lutas dos sem-terra, dos sem-teto, dos indígenas, quilombolas, das negras e negros, da juventude, como porta-voz das bandeiras das oprimidas e oprimidos, como combatente do racismo estrutural, do patriarcalismo, do machismo, do capacitismo, da LGBTfobia, da xenofobia e de qualquer outra forma de discriminação e opressão, seja em razão de etnia, de religião ou de origem nacional, é preciso começar “por dentro de casa”.
O PSOL é, sem dúvidas, um partido necessário e fundamental para as transformações da sociedade brasileira. Por isso, é preciso que o partido atualize programa, modos de atuação e funcionamento, além de adotar metodologia arejada e flexível para relacionamento com movimentos sociais e populares com novas características.
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